sábado, 19 de dezembro de 2009

“Caro bispo Maiscedo:


Antes de apresentar-lhe algumas considerações para a sua reflexão, gostaria de citar um versículo: “Porque nós não estamos, como tanto outros, mercadejando a palavra de Deus; antes, em Cristo é que falamos na presença de Deus, com sinceridade e da parte do próprio Deus” (2 Co 2.17, ARA).


Sinceramente, antes de qualquer comentário, quero fazer um desabafo. Já que os seus telebispos e telepastores vivem mandando o povo se revoltar contra a sua situação, quero dizer-lhe que ESTOU REVOLTADO com essa sua postura de defender o assassinato de pobres inocentes. Explique-se, por favor, caro Pedir Maiscedo. Como pode alguém que está sendo chamado de "o maior evangelista do século" ser favorável ao aborto?

Antigamente, prezado bispo, os crentes que buscavam riquezas, esquecendo-se de priorizar o Reino de Deus, eram duramente criticados nas igrejas. Mas hoje, principalmente depois de o senhor e seus liderados, em suas pregações, começarem a afirmar sem nenhum constrangimento que é vontade de Deus que todos sejam ricos financeiramente, vejo muitos se esquecendo da vida cristã para priorizar a vida financeira.

Sei que a Palavra de Deus também não apóia a teologia da pobreza ou da miséria, mas não é por isso que vamos seguir à teologia da prosperidade, não é mesmo? Os seus tele-obreiros têm dito: “Adeus, pobreza do inferno! Você, irmão, nasceu para ser rico!”, como que querendo dizer que ser pobre — mesmo que as Escrituras digam o contrário (Hb 11.37,38; Tg 2.5) — signifique estar sob maldição.

Com todo o respeito, caro bispo, essa teologia da prosperidade que o senhor tem pregado centra-se em verdades bíblicas pela metade, fora de contexto. E isso tem levado muitos crentes a pensarem que só passarão por privações se um demônio — ou “encosto” — da miséria estiver na vida deles. Ora, enfrentar dificuldades nunca foi nem será sinal de fracasso espiritual. O salvo pode ser pobre e continuar andando de cabeça erguida, haja vista o seu maior tesouro estar guardado nos céus (1 Pe 1.3,4).

O senhor diz que ser cristão implica ter uma vida abastada, longe dos problemas e enfermidades. E considera homens de Deus, como Jó, carnais. Porém a Palavra de Deus afirma que esse patriarca era sincero, reto, temente a Deus e desvia-se do mal (Jó 1.1-3). Mesmo depois de ele ter perdido todos os seus bens, continuou fiel ao Senhor, dando-lhe glória e mantendo as mesmas qualidades mencionadas (Jó 1.20-22; 2.3; 13.15). Isso não o faz reconsiderar as suas convicções?

Vejo que, em sua igreja, comercializam-se “bênçãos” e mercadeja-se a Palavra do Senhor. Não quero que se irrite comigo, mas tenho de ser sincero. Em sua igreja — uma grande igreja, por sinal, com suntuosos templos —, ser rico é uma prerrogativa do crente. Seus pastores associam de forma errada a pobreza à vida de pecado, dominada pelo Diabo, ou à falta de fé. Eles dão uma ênfase exagerada à contribuição financeira e priorizam a conquista de bênçãos na Terra. Com isso, desviam os crentes das doutrinas fundamentais da fé cristã.

Eu sei que ninguém sobrevive sem alimento. A comida para o corpo é insubstituível. Contudo, Jesus falou de uma comida ainda mais importante e prioritária: “A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo 4.34). E Paulo também disse: “... o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (Rm 14.17).

Todos sabem que o senhor tem uma vida abastada, próspera. Não tenho nada contra, mas isso é o principal? Jesus jamais pregou que devemos buscar riquezas ou bens, pois a vida cristã não se resume em ter saúde, bens, dinheiro, dispensa cheia... Ele ensinou: “Trabalhai não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna...” (Jo 6.27).

Na minha opinião, caro bispo Maiscedo, a melhor definição para o verbo “prosperar”, à luz das Escrituras, é “florescer”. A palavra “prosperidade”, do latim prospérus, significa “feliz, ditoso, florescente”. E, nesse sentido, a Palavra de Deus afirma: “O justo florescerá como a palmeira; crescerá como o cedro do Líbano. Os que estão plantados na Casa do Senhor florescerão nos átrios do nosso Deus. Na velhice ainda darão frutos; serão viçosos e florescentes” (Sl 92.12-14).

Segundo a Bíblia, florescer como uma árvore significa prosperar em todos os sentidos (Sl 1.1-3) e dar muito fruto (Jo 15.1-5). Sabemos que uma árvore não cresce apenas para cima ou para os lados; cresce também para baixo; tem raízes. Essa é a prosperidade que o Senhor quer dar aos seus filhos: um crescimento em todas as direções. É um grande engano encarar a prosperidade material como um fim em si mesmo (Mt 6.33; 12.16-21).

Não se esqueça, ainda, destas palavras do Mestre Jesus: “Filhos, quão difícil é, para os que confiam nas riquezas, entrar no Reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no Reino de Deus” (Mc 10.24,25). E lembre-se de que Deus nunca considerou a pobreza uma maldição (Dt 15.11; Pv 22.2; Is 58.6,7).

Relutei em escrever-lhe isso, mas essa sua pregação sobre prosperidade tem feito esse sucesso todo, a ponto de atrair multidões e encontrar pronta aceitação no coração das pessoas, porque o senhor, à semelhança dos falsos profetas de Israel (Ez 13), encontrou a mensagem que o povo quer ouvir! E, nesse caso, estou preocupado com a sua insensibilidade. Desculpe-me, mas cheguei até a pensar: “Será que o bispo Pedir Maiscedo, que agora está sendo chamado de o maior evangelista do século, é um falso profeta?”

Fui levado a tal reflexão porque os seus telebispos, caro Maiscedo, estão na mídia 24 horas por dia! E a ênfase das suas mensagens é sempre a mesma: pedir, pedir, pedir... Pedem ao meio-dia, pedem mais cedo, pedem à noite... E o senhor alcança cada vez mais espaço, pois os tele-ofertantes, por incrível que pareça, gostam da sua telepregação da prosperidade!

Quanto aos teletestemunhos que o senhor tem apresentado em seus programas televisivos, a ênfase recai na denominação da sua igreja, e não em Jesus. Dizem os tele-agraciados que, depois que conheceram a sua igreja e fizeram a campanha da nação dos mais 300 e menos de 320 (advinhem!), as suas vidas mudaram. Tais relatos “comprovam” que pertencer à sua igreja significa ser próspero financeiramente.

Carros na garagem, casas próprias, empresas... Realmente, parece ser muito bom pertencer à sua denominação!

Mas, o que o senhor acha de Tiago 5.1-3?

“Eia, pois, agora vós, ricos, chorai e pranteai por vossas misérias, que sobre vós hão de vir. As vossas riquezas estão apodrecidas, e as vossas vestes estão comidas da traça. O vosso ouro e a vossa prata se enferrujaram; e a sua ferrugem dará testemunho contra vós e comerá como fogo a vossa carne. Entesourastes para os últimos dias”.

Ah, sim, os seus telebispos também gostam de citar isoladamente passagens como Filipenses 4.13. Prometem de tudo para o povo, com base nessa passagem... Ouvi falar que já prometeram até filhos com olhos verdes ou azuis para mulheres que têm dificuldade de conceber. E, se não receberem a bênção conforme a promessa, os casais jamais pensarão que foram enganados por falsos profetas, pois os seus tele-obreiros já terão se precavido, dizendo de antemão que houve falta de fé ou a contribuição financeira foi insuficiente... O senhor já leu os versículos 11 e 12 da passagem citada?

“Não digo isto por necessidade, porque já aprendi a contentar-me com o que tenho. Sei estar abatido e sei também ter abundância; em toda a maneira e em todas as coisas, estou instruído, tanto a ter fartura como a ter fome, tanto a ter abundância como a padecer necessidade”.

Acho que os seus bispos não aprenderam ainda que “Posso todas as coisas” também inclui dificuldades e até fome!

Eu sei que o senhor sabe disso, bispo Pedir Maiscedo, mas quero enfatizar que Deus pode permitir que passemos por privação e provação. E, se isso acontecer, devemos manter a nossa fé e continuar dando glória a Jesus. A Palavra do Senhor diz que nada — absolutamente nada — pode nos separar do amor de Cristo: nem a tribulação, nem a angústia, nem a perseguição, nem a fome, nem a nudez, nem o perigo, tampouco a espada (Rm 8.35-39).

Mas estou realmente triste com a postura de muitos líderes de igrejas que, seguindo ao seu exemplo, têm transformado os seus templos em “distribuidores” de milagres e bênçãos materiais, e não em lugares onde Deus é cultuado. O nome de Jesus, a pregação cristocêntrica e a vida cristã perderam o sentido... O negócio é conquistar; os crentes querem restituição. Ninguém quer mais se santificar, renunciar o “eu” e servir ao Senhor Jesus com humildade.

Desculpe-me, mas creio que o senhor e seus discípulos têm grande responsabilidade por haverem tantas distorções em nossos dias. Parece até que a nossa salvação consiste apenas em possuir bênçãos materiais. Muitos pregadores da atualidade enfatizam tanto que devemos conquistar bens e riquezas, que nos esquecemos até de cultuar a Deus, de louvá-lo, de bendizer-lhe por tudo quanto tem feito por nós, dando-nos a preciosa salvação em Cristo (Sl 103.1,2; 116.12,13).

Os seus cultos da prosperidade são voltados apenas para as necessidades humanas. Suas reuniões centram-se no “receber de Deus”, e não no “entregar a Deus” (cf. Rm 12.1,2). Sabe qual é a melhor definição para isso? Não me tenha mal, mas só há uma definição para o que o senhor tem feito: barganha. E esse tipo de culto não agrada ao Senhor. Cultuá-lo significa louvá-lo, adorá-lo; e Ele, em retribuição, fala com o seu povo, pela Palavra e pelos dons do Espírito Santo (1 Co 14.26), abençoando-o (2 Cr 7.14,15).

É claro que podemos contribuir e fazer prova do Senhor, orando com fé, para que as portas se abram (Ml 3.10). Mas isso é um propósito de cada crente. O que tem acontecido hoje, em suas igrejas, é uma distorção da Palavra de Deus. O culto todo gira em torno da prosperidade material, e o povo é desafiado a contribuir com valores cada vez maiores, a fim de que recebam bênçãos.

O senhor tem construído templos suntuosos em todas as capitais brasileiras. Seus obreiros, sem nenhum compromisso com o verdadeiro evangelho de Cristo, usam os mais diversos meios para convencer o povo a tirar o dinheiro do bolso ou abrir a carteira. E quantos desavisados não têm “queimado” o seu dinheiro — conquistado com muito trabalho — em “fogueiras santas”! Deus não aprova esse falso evangelho mercantilista, que falsifica a Palavra e oculta verdades do povo. Atente, caro bispo Pedir, para as Escrituras, que dizem: “... rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia nem falsificando a palavra de Deus...” (2 Co 4.2).

Diante do exposto, quero dar-lhe um conselho: não ambicione as coisas altas (Rm 12.16). Siga ao conselho da Palavra do Senhor: “Sejam os vossos costumes sem avareza, contentando-vos com o que tendes; porque ele disse: Não te deixarei, nem te desampararei” (Hb 13.5). E ainda: “Aquele que tem o olho mau corre atrás das riquezas, mas não sabe que há de vir sobre ele a pobreza” (Pv 28.22).

Lembre-se de que o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males (1 Tm 6.10, ARA). O dinheiro, em si, é necessário para a nossa manutenção. Contudo, existe o perigo de o chamado “vil metal” ocupar o primeiro lugar em nosso viver. E isso parece estar acontecendo em sua vida e de seus liderados e simpatizantes. Infelizmente, mutos, pelo dinheiro, são capazes até de negar “... o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição” (2 Pe 2.1).

De acordo com a Palavra de Deus, os falsos mestres, cuja motivação é o dinheiro, são capazes de fazer, por avareza, “... negócio com palavras fingidas; sobre os quais já de largo tempo não será tardia a sentença, e a sua perdição não dormita” (2 Pe 2.3). E não é isso que vemos em nossos dias? Os seus telebispos, seguindo à sua orientação, estão por aí vendendo as suas “indulgências”, como “estolas sacerdotais”, “pedras de Jacó”, “águas do rio Jordão”, “azeites de Israel”, etc.

Ah, falando em rio Jordão, fiquei sabendo de sua mansão de seis milhões de reais em Campos do Jordão, em São Paulo! Parabéns pela conquista!

Mas, responda-me: Por que os seus bispos não falam a verdade? A impressão que tenho é que o senhor não quer eles façam a vontade de Deus. E isso não é nada bom se considerarmos o que o Senhor Jesus disse em Mateus 7.21-23. Será que o senhor escolheu o caminho do erro e fala o que as pessoas querem ouvir, e não o que Deus deseja lhes comunicar? Cuidado para não ouvir, naquele Dia: "Nunca vos conheci".

Jesus deixou claro, em Mateus 6.19-21, que não devemos priorizar as riquezas deste mundo: “Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam. Mas ajuntai tesouros no céu... Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará o vosso coração”. Priorize, pois, caro bispo Maiscedo, antes que seja tarde, as “coisas que são de cima” (Cl 3.1,2).

Ah, e já que agora o senhor é o maior evangelista do século, vê se prega sobre Jesus e sua obra redentora, por favor... E não xingue as esposas de seus bispos. Isso depõe contra a sua popularidade...